Como a neurocomunicação pode humanizar estratégias para marcas

Afeta\
6 min readSep 24, 2020

Por Gabi Neves
Co-idealizadora na Rede Afeta\

E já adianto que vai além de entender gatilhos mentais.

Olá! Como você está? Espero que bem. Eu sou Gabi Neves e vou falar um pouco sobre como a neurocomunicação pode enaltecer e humanizar estratégias, especialmente as digitais, para marcas

Mas antes, peço licença para me apresentar.

Eu sou Gabi Neves e acredito que informação liberta e nos dá ferramentas para vivermos de forma mais autônoma e consciente. No entanto, nem todo mundo têm acesso à informação. Por isso, acho importante que a informação seja compartilhada de forma democrática. Como esse evento que é gratuito. Eu acesso e compartilho informação a partir de estudos de assuntos diversos, tanto acadêmicos como a minha formação em publicidade e a especialização em neurociências como não-formalizados, futurísticos e ancestrais. Ouvindo pessoas, observando padrões. O modelo como pesquiso e organizo é meu método e ele está pautado no afeto e na pluralidade dos saberes. Desse processo de pesquisa, eu organizo as informações e aprendizados em consultorias, mentorias, estratégias, projetos e conteúdos. Unindo toda essa trajetória, me coloco como neurocomunicadora e me compreendo como uma realizadora ampla. Hoje, atuo em várias frentes:
> de forma independente com mentorias e projetos
> como co-idealizadora da Rede Afeta, uma consultoria de inovação em formato de rede com profissionais independentes que trabalham comunicação e diversidade de forma transversal e estratégica.
> Além disso, como pesquisadora conduzo uma plataforma de pesquisa e inteligência alimentar chamada Bonde Verde, no qual a missão é democratizar a importância e impacto da alimentação no saúde mental e bem-estar.

Hoje vim falar um pouco de como minha especialização em neurociência impactou minha forma de trabalhar e pensar estratégias de comunicação.

Bom, acho legal começar do básico: neurociência é o estudo das estruturas e das funções mentais. O que tem e como funciona o cérebro.

1 E o primeiro aprendizado tem a ver com a compreensão da estrutura. A mente é um emaranhado de conexões. Nosso cérebro é um amontado de fibras, neurônios, celulas e líquidos que se conectam em rede. A rede neural.

Cada parte desse rede tem a sua função, que é essencial para o funcionamento do todo. E a mente tem conexões com o corpo inteiro, não é um “departamento isolado”.

Existe inclusive um eixo que conecta o cérebro ao segundo cérebro, o sistema gastrointestinal. O nome do eixo é brain-gut, no qual tanto o cérebro impacta o funcionamento do intestino quanto o contrário também é verdade. Essa compreensão da rede e organismo, me ajudou a construir uma visão mais sistêmica e integrada de estratégias.

O que me leva ao primeiro insight:

Precisamos atualizar nossa visão de Marketing Digital > uma visão fragmentada do comportamento das pessoas para um Marketing Integrado > visão que compreende o ser humano de forma integral, com comportamento híbrido que vai do digital para o presencial de forma orgânica.

2 O segundo aprendizado é que entender o funcionamento do cérebro é 50% da estratégia, a outra parte é observação. Observação de comportamentos, de padrões, de pessoas.

A história da neurociências é pautada na observação já que apenas por volta de 1970 é que tivemos acesso à tecnologias como ECG (eletroencefalograma), que permitiam fotografar o cérebro de forma não invasiva. Até então, boa parte dos estudos, diagnósticos e tratamentos partiam da observação.

Uma das técnicas mais interessantes e eficazes de “gatilhos mentais” parte dessa premissa. O nudge, que podemos traduzir literalmente como empurrão, é uma forma de sugerir sutilmente comportamentos com estratégias simples e de baixo custo e complexidade.

É uma espécie de intervenção estratégica a partir da compreensão dos mecanismos e convenções sociais.

Aliás, existem vários nudges na nossa vida.

Nudges urbanos nos ajudam a circular pela cidade e também mante-la organizada de forma simples e intuitiva
CASE RÁPIDO: Em interessante livro sobre ciência comportamental[1], Cass Sunstein e Richard Thaler relataram o desafio que os administradores do Aeroporto Schiphol, em Amsterdam, enfrentavam com a manutenção dos banheiros masculinos. No entanto, ao invés da sinalização padrão, a solução foram adesivos de moscas dentro de cada mictório. Resultado: redução de 80% de derramamento de urina.

Só com esses exemplos já podemos pensar em diversas estratégias, certo? Imagine como podemos brincar com conteúdos de stories ou até ações de incentivo. Só que preciso lembrar que:

TODA ESSA CONSCIÊNCIA GERA RESPONSABILIDADES

E isso nos leva ao próximo aprendizado

3 Diversidade é fundamental. Para essa visão sistêmica e colaborativa do trabalho estratégico que coloca as pessoas no centro funcionar precisamos ampliar percepções e a representatividade dentro dos projetos.

Não é sobre campanhas de comunicação com representatividade. Mas de diversidade integrada, estratégica. Isso quer dizer, que dentro das empresas, além de uma equipe de marketing diversa, os projetos precisam e podem integrar as visões complementares de outras áreas. Porque se partimos da observação do comportamento das pessoas para pensar estratégias, pontos de vistas e trajetórias diferentes nos ajudam a ver possibilidades e inovar nas soluções.

Além disso, um projeto que reúne pessoas diversas, pode evitar soluções que excluem pessoas ou grupos. Principalmente na tecnologia, no qual muitas soluções digitais são pautadas por um viés embranquecido e machista. Inconscientemente, nossas soluções podem causar desconfortos e até traumas nas pessoas.

Gif que mostra o embranquecimento causado pelo uso do aplicativo Face App

São outras formas de gatilhos mentais e traumáticos que precisamos considerar. Só pra ilustrar, trago um exemplo.

A proposta do aplicativo FaceApp era a de nos imaginarmos na velhice, mas também embranqueceu as pessoas negras que testaram, como o Terry Crew ao lado.

E sim, é nossa responsabilidade como estrategistas evitar que isso aconteça.

E para nos inspirar e fechar esse artigo, olhemos para quem já está fazendo diferente.

Algorithmic Justice League, na tradução livre, seria a Liga da Justiça Algoritmica.

A Algorithmic Justice League, AJL, é um movimento global, iniciado pela incrível Joy Buolamwini, que busca equidade e representatividade racial na Inteligência Artificial. Por meio de arte e pesquisa a AJL busca promover uma consciência sobre o impacto social e traumas que sistemas de Inteligência Artificial (AI) podem causar em grupos marginalizados e vulneráveis. Inclusive, em seu TED, Joy explicou que a motivação para iniciar o movimento foi que ela mesma, como pós graduanda no MIT, só era reconhecida em sistemas de leitura facial quando utilizava uma máscara branca.

Acho importante seguir para a conclusão reforçando a nossa responsabilidade sobre as estratégias mas também pelo ambiente que geramos. Por isso, deixo aqui algumas reflexões:

Com tudo isso em mente, para quem você tem feito as soluções e estratégias digitais?

Quem está desenhando essas estratégias com você?

Será que sua equipe pode se conectar com outros setores ou saberes para ampliar a visão e ter novas perspectivas?

Obrigada pelo seu tempo e atenção! Até mais!

Esse texto e apresentação foram feitos especialmente para o evento Digitalks Expo 2020 que aconteceu nos dias 26, 27 e 28 de agosto e compartilhados de forma integral aqui no canal.

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